Cesar Techio
Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com
A vaidade é um dos venenos que move algumas pessoas na busca por postos de comando nos mais variados setores da vida social. Mas, o mais cobiçado é o comando franqueado pelo poder político, no qual, através do modelo democrático adotado em nosso país, qualquer um pode conquistar. Não é preciso prova cabal de competência na vida privada ou de possuir o candidato um nível de escolaridade que lhe permita compreender de forma satisfatória a legislação, propor projetos dentro de níveis metodológicos adequados e comandar a administração pública com eficiência. A capacidade para resolver problemas, então, é o que menos conta. Qualquer um pode ser candidato, dentro de parâmetros e critérios legais e constitucionais que nivelam, por baixo, doutores, pedreiros, gênios, santos e patetas. Nosso sistema democrático impõe situações inusitadas. O voto de um alienado, de um vagabundo, destes que nunca se interessou por crescer e evoluir no entendimento vale tanto quanto o voto de um juiz, por exemplo. Pensar diferente, segundo o princípio constitucional da igualdade, seria preconceito e discriminação punida com rigor. O candidato ignorante, conquanto seja simpático, tenha carisma e saiba motivar o eleitor, pode ter muito mais chance do que um candidato tecnicamente bem preparado, de visão humanista e comprometido com o ser humano, meio ambiente, justiça e com a ética.
Álvaro Mendonça, vice-presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina, Fiesc, tem razão, quando demonstra preocupação, mais com a qualidade do que com a quantidade dos vereadores na Câmara Municipal. Também tem razão o ex-presidente Alcantaro Corrêa, quando afirma que “A maioria que está lá tem pouca formação, por isso não se pode esperar muita coisa”. Não entendo que estejam se referido aos nossos vereadores, que aqui em Concórdia são doutos, cultos, preparadíssimos, mas apenas fazendo uma reflexão de cunho genérico. Preocupar-se com candidatos que lêem com dificuldade é o mínimo que leitores conscientes devem fazer. É um verdadeiro terror e realmente assusta a eventual atuação destes toscos quando alçados ao legislativo ou ao executivo. A justiça exige que o candidato seja alfabetizado, o que não é garantia para nada. Saber ler um texto, às vezes mal e porcamente, não acrescenta muito às condições mínimas que um vereador deveria ter para exercer o cargo.
A capacidade que se exige ou que se devia exigir de um representante do povo, só se obtém com preparo intelectual, estudo, ideais e compromissos demonstrados e colocados à prova na vida pessoal e atividade privada. O sistema democrático atual que permite que pessoas incapazes até de pensar e refletir decidam no voto por candidatos oportunistas, despreparados e demagogos, deve depurar estas falhas e avançar para um estágio que exija melhor capacitação, tanto do candidato como do eleitor. A legislação deve exigir o repasse de informações idôneas e formação pessoal que garantam entendimento pleno e uma escolha mais segura. Enfim, o “poder legítimo e constituído” a que se refere combativo vereador (irritado, assim como seus colegas, pelas críticas da cúpula da Fiesc), na verdade precisa mesmo ser qualificado. Afinal, o povo merece representantes honestos e inteligentes. Exigir isso não é preconceito nem desqualificação. Quem clama por um melhor preparo dos vereadores e políticos em geral merece aplausos. Mas sempre tem os que acham que, mesmo com razão, quem fala a verdade tem que calar a boca e se retratar.
Pensamento da semana: “O feijão ia ser usado para fazer política. Denunciei a irregularidade e fui punido por isso”. Walter Bastos. Revista Veja, “A praga da Corrupção”, edição 2230, pág. 81, que circula hoje.