Cesar Techio
Economista – Advogado
techio@concordia.psi.br
Não pode existir segredo de Estado ou qualquer tipo de proteção às informações, que se volte contra a vida humana. Estupefato, em 1980, no Diretório da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Paraná, me deparei com um colega discursando em favor de Muammar Kadafi. Li o persuasivo “Livro Verde” e sua Terceira Teoria Universal, uma “bíblia” do regime, de autoria do então capitão líbio (hoje disponível na íntegra na internet (http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/livroverde.html). Mas não consegui absorver toda aquela eloqüente defesa da revolução que impunha, traiçoeiramente, aos seus superiores hierárquicos e ao rei Idris. Como desprezar minha formação humanista? Como ignorar as fortes cores positivistas recém pinceladas no quadro acadêmico? Como ser indiferente ao conhecimento dos argumentos sofísticos e contraditórios, ao silogismo, aos conceitos sobre consciência moral e liberdade humana? O fundamentalismo religioso, em qualquer lugar do mundo (inclusive aqui), quando misturados à política levam à fúria, ao ódio, ao desrespeito aos direitos universais e ao direito natural. Se o povo árabe, enterrado no estado teológico, desconhece tais conceitos e, por conta disso não evoluiu para o terceiro estado positivista de Auguste Comte, pelo menos as redes sociais desempenharam um papel crucial na insurreição. A revista “Veja”, edição que circula hoje (nº. 2205 pág. 64), alerta sobre o papel dos clérigos, “mestres do populismo e da venda de ilusões”, mas que, “conectados pela internet, os jovens árabes podem estar descobrindo algo mais em comum do que a religião”.
O Facebook e o Twitter, contra toda a repressão religiosa e política (que controla o comportamento do povo árabe, sujeitando e garantindo relações sociais servis aos regimes ditatoriais), estão funcionando como fonte irradiadora de noções sobre democracia, liberdade, verdade e de todo o conhecimento útil e capaz de cooperar com a solidariedade revolucionária. Séculos de opressão, violência, ignorância e fundamentalismo começaram a desmoronar no Egito, Iêmen, Marrocos, Tunísia, Argélia, Jordânia, Barein e na Líbia, graças à internet. Duvido que, diante das redes sociais os líderes religiosos consigam regular a vida do povo, se intrometer na vida privada e ditar subserviência cega. Artimanhas e segredos, articulados por governos sanguinários, ditatoriais e opressores, que se volte contra o povo e a democracia, não mais subsistirão de agora em diante. Com a internet e as redes sociais, a máscara dos loucos que pensam em oprimir, prender e matar por motivos políticos, se volatilizará, assim como eles. Nosso tempo é de internet globalizada. As mídias sociais representam avanços significativos para a democracia, para o conhecimento e para a evolução da humanidade. Conectadas por milhões de pessoas não existe mais segredo, mordaça, opressão e matança a “sete chaves”. Agradeçamos ao Facebook (500.000.000), Twitter (175.000.000), Orkut (120.000,000), Sônico (44.000.000), Netlog (36.000.000), MySpace (130.000.000), Friendster (29.000.000), Classmates (40.000.000), Bebo (22.000.000), MeusParentes (30.000.000), entre outras, por essa nova realidade.
Pensamentos da semana: 1 - "Ditadura é um discurso constante te ensinando que seus sentimentos, seus pensamentos, e desejos não têm a menor importância, e que você é um ninguém e deve viver comandado por outras pessoas que desejam e pensam por você." Stephen Vizinczey. 2 - "As ditaduras fomentam a opressão, as ditaduras fomentam o servilismo, as ditaduras fomentam a crueldade; mas o mais abominável é que elas fomentam a idiotia." Jorge Luis Borges.