Cesar Techio - Economista – Advogado
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Convenhamos, o governador José Roberto Arruda (DF), filmado recebendo dinheiro de suposta propina com uma plêiade de deputados distritais e empresários que apóiam o seu governo, sabe, e muito bem, convencer sua base de apoio a fim de vencer a indignação popular ante o óbvio e evidente descalabro que atingiu seu governo. Obteve maioria nas duas comissões que analisarão os pedidos de impeachment dele, e da CPI responsável pela investigação do esquema de corrupção do governo local. Arruda é muito bom nisso a tal ponto de se dar ao luxo de escarnecer da população com piadinhas recheadas de sorrisos estampados em horário televisivo nobre da Rede Globo de Televisão. Também pudera, o dicionário Michaelis define bem as qualidades de arruda: “Erva lenhosa da família das Rutáceas (Ruta graveolens), de cujas folhas, que são verde-cinzentas, se obtêm um óleo volátil, irritante e venenoso, usado como arborífero e emenagogo. Segundo a superstição popular, a arruda tem a qualidade de espantar o mau-olhado”. E põe mau-olhado nisso. A começar pelos olhos do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. E a terminar pelos olhos de toda a população brasileira que é estrábica. Afinal, os cinquenta videos com imagens de boa qualidade dele, Arruda, e de seus amigos recebendo dinheiro, não têm nada a “ver”. E, contra olho torcido, zarolho, oblíquo, torto e vesgo, dá-lhe arruda! A realidade é que, sob uma investigação séria da Polícia Federal (Operação Caixa de Pandora), recheada de provas robustas de suposta corrupção (gravações e mais gravações levadas ao conhecimento do público), ficou no ar a gozação global de um governador enlameado por gravíssimas acusações.
Em Santa Catarina, em investigações realizadas pela Polícia Federal durante a Operação Transparência, o vice-governador de Estado, Leonel Pavan (PSDB) teria sido flagrado em gravações telefônicas e em imagens de vídeo, que permanecem em segredo de Justiça, recebendo R$ 100 mil reais para a concessão de alvará para a empresa Arrows Petróleo (alvará cancelado por inadimplência). O próprio Procurador Geral de Justiça do Ministério Público do Estado, Gercimo Gomes Neto, afirmou publicamente que as investigações e gravações interceptadas deixaram aparecer "indícios" de pagamento de R$ 100 mil em propina ao tucano: "As provas, de uma maneira técnica, nos trazem essa confirmação. A prova é forte o suficiente para oferecermos a denúncia-crime contra o vice-governador". Junto com o vice-governador, o diretor geral da Secretaria da Fazenda, Pedro Mendes e dois executivos da empresa estão no epicentro da denúncia ministerial por crime de improbidade.
Diante deste quadro sistêmico de investigações alicerçadas em provas constatáveis “icto oculi”, ou seja, perceptíveis e de nitidez visual absoluta, (segundo um saudoso amigo) e de denúncias de corrupção ora contra um governador, ora contra um vice-governador, e de esquemas criminosos que assaltam os cofres públicos e o bolso do povo trabalhador que paga impostos, é de se perguntar: Homens sérios, probos, com ficha limpa, com histórico de vida dedicada à causa pública e à justiça, policiais federais, delegados e promotores idealistas, se permitiriam brincar de “mau olhado” com situações tão sérias como estas? Creio que não. Tais acusações, públicas, formais, processuais, vindas do Ministério Público, com lastro em investigações da Polícia Federal, sabidamente honesta, merecem muita atenção e respeito dos eleitores. Ou será que tem eleitor que ainda acredita em mau-olhado, pavões e arruda? Pensamento da semana: "R$ 30 mil é tão pouco... Se ainda fossem uns US$ 30 milhões... Por R$ 30 mil vender um país, você está louco. Cada um pesa o dinheiro na sua balança. E a minha precisa de muito.” Entrevista exclusiva ao G1, criticando político corrupto após ser eleito. Clodovil.