Guerra e Paz
Cesar Techio
Economista – Advogado
cesartechio@yahoo.com
A operação israelense "chumbo grosso", segundo Demétrio Magnoli em entrevista a televisão brasileira, é fruto da necessidade do atual governo de Tel Aviv de provar que tem capacidade para defender o povo. O conflito, segundo ele, tem cores eminentemente de ordem política. Todavia, essa leitura não leva em conta o fato de que o território israelense é atacado por foguetes do Hamas 24 horas por dia. Só faltava o professor Magnoli afirmar que o atual governo combinou a guerra com os inimigos, para se fortalecer politicamente, sem considerar que Israel, teve seu território bombardeado por 150 foguetes, desde o fim do cessar-fogo há doze dias. O Hamas acusa Israel de não cumprir a promessa de retirar o bloqueio ao seu minúsculo, super-populoso e pobre território, causando uma catástrofe humana e este acusa aquele de não interromper os bombardeios. Desde novembro, mais de 500 mísseis, foguetes e morteiros foram disparados da Faixa de Gaza contra Israel. Não obstante o mundo, inclusive o Brasil, condenou a resposta militar israelense sob a justificativa de ser desproporcional aos ataques palestinos.
A guerra contínua entre os povos abre a virada do ano de 2009 com inúmeras mortes de crianças, adolescentes e pessoas inocentes. Desde o início da humanidade conflitos permeiam a terra, tendo como pano de fundo infinitas, egocêntricas e idiotas justificativas, estas que marcam o passo da espécie humana, a qual, pelo andar da carruagem, se mostra sem jeito e sem futuro. Por onde caminha o homem, com ele anda o terrível e destruidor vírus do ódio. O homem, teimoso e louco, é seu hospedeiro.
Em Jacques Maritain, teólogo, professor e político, encontramos inspiração e esperança para este ano que inicia, na defesa do primado do espiritual, na afirmação dos direitos da pessoa humana, no bem comum que busca o bem de todos e na busca de meios de ação em favor da dignidade humana. Modelo para o mundo, por sugestão de Maritain, na Declaração dos Direitos do Homem sobrelevou-se a dignidade da pessoa humana excluindo qualquer discriminação: "I – Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. II - Todo homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição."
No preâmbulo de nossa Constituição são repetidos estes princípios: “para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e na ordem internacional, com a solução pacífica das controvérsias..."
Se compararmos nosso país com países milenares, ditos “civilizados”, constataremos que as estruturas sociais por aqui têm como padrão a justiça, o amor fraternal, a dignidade, os direitos e liberdades que possibilitam não apenas a liberdade religiosa, a tolerância e o respeito recíproco entre partidos políticos e com os povos vizinhos, mas a amizade cívica entre as pessoas, o respeito pela história. Nossa constituição diante dos conflitos exclui a violência absurda e inaceitável e a substituí por soluções diplomáticas e pacíficas. Por aqui, o governo diante de conflitos não sai disparando foguetes contra países vizinhos, nem estes invadem e matam nossas crianças e famílias. Vivemos num país abençoado. Para vivermos em paz e em prosperidade, basta termos boa vontade. Esta realidade nos conforta e permite, com serenidade e alegria, desejarmos um ao outro um feliz ano novo. Já para os que adotam políticas de morte, desejamos uma boa leitura de Maritain.