sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

CRISE ECOLÓGICA E DE CONSCIÊNCIA

CRISE ECOLÓGICA E DE CONSCIÊNCIA.

Cesar Techio
Economista – Advogado
cesartechio@yahoo.com

Esta semana começou com o presidente da República concedendo uma entrevista para Jose Luis Datena. Camisa de manga curta, em clima de informalidade, o conteúdo da entrevista versou sobre a crise econômica. Segundo o Presidente, a hora de comprar, comprar e comprar, é agora, em especial veículos automotores. O entrevistador observou que era a primeira vez na história, que um presidente fazia merchandising. Diante da surpresa do entrevistador, o presidente, com uma visão de quem já viveu várias crises econômicas ao longo de sua vida, respondeu que já foi operário e sabia muito bem o que significa o desemprego.
Nicolai Kondratiev, ao estudar o desenvolvimento econômico, observou a ocorrência de ciclos de prosperidade e recessão mundial a cada 40 ou 50 anos. Coube ao economista Joseph Schumpeter constatar que os períodos de prosperidade tinham a ver com inovações tecnológicas no sistema produtivo, geradoras de investimentos disseminados em todo o sistema econômico e de empregos e prosperidade.
A idéia do presidente, que atribui a superação da crise a uma necessária expansão da demanda, ou que, a quebra da crise tem a ver, exclusivamente, com consumo de bens duráveis destinados a manter investimentos e empregos é, em parte, equivocada. Da mesma forma, o aumento de gastos públicos pelo Estado, na clássica linha Keynesiana, como meio de interromper o ciclo recessivo, se mostra fora de perspectiva.
Nenhuma destas propostas considera o esgotamento do atual modelo industrial e tecnológico de produção em massa, poluidor do ar, do solo, da água, predatório do meio-ambiente e dos recursos naturais não renováveis. Não se observam, nas palavras dos especialistas em crises ou nas palavras do presidente e dos líderes mundiais, ao estimularem o vetusto e excessivo consumismo, qualquer consideração pela consciência ecológica e de defesa do meio-ambiente enraizada na cabeça da nova sociedade ecológica e globalizada.
A crise mundial possui natureza estrutural e não simplesmente de demanda por ausência de crédito. Na realidade, o ciclo econômico que tem sua matriz em cima do petróleo e de uma sociedade consumista, já era.
É necessário um novo paradigma tecnológico, organizacional, inovador que promova transformações radicais em processos produtivos com produtos competitivos na base da energia limpa. É urgente a criação de tecnologias energéticas limpas com alto efeito multiplicador sob o ponto de vista do consumo em escala mundial, que cause impacto na cadeia produtiva e que possua alto valor agregado em termos ambientais.
O que é preciso perceber, é que o desemprego crescente tem natureza estrutural lastreado em um modelo produtivo que não é mais aceito pela consciência das pessoas. De forma que não adianta estimular o consumo, sem mudar a concepção do sistema produtivo, dos produtos e sem regulamentações e subsídios em favor de fontes de energia limpa..
A diminuição do IPI, IOF e outros impostos é importante no momento, mas sob o ponto de vista da crise estrutural e, diante da ecológica mentalidade da nova geração global que exige a preservação do planeta, se mostra insuficiente, na medida em que não resolverá o esgotamento do ciclo econômico de prosperidade e, o que é pior, não diminuirá a agressão ao meio ambiente por veículos poluidores e beberões de gasolina. Hic! Saúde!